Comportamento
Brasil acima do peso
publicado em 1 de novembro de 2017 - Por GABRIEL ALVES / Folhapress
Na hora de combater a obesidade, há dois caminhos: os longos e dolorosos e os que não levam a lugar algum.
Na hora de combater a obesidade, há dois caminhos: os longos e dolorosos e os que não levam a lugar algum. Atalhos e fórmulas mágicas para quem quer perder alguns (ou vários) quilos existem aos montes, mas o problema é que, via de regra, ou são alternativas com pouco ou nenhuma eficácia ou trazem risco inaceitável para a saúde. Entre as que têm algum fundinho de verdade estão os alimentos termogênicos –aqueles que, de alguma forma, fazem o metabolismo da pessoa funcionar mais rapidamente e aumentam o gasto calórico. Gengibre, pimenta e vinagre são desse time. O problema é que, para terem algum efeito prático, eles teriam de ser consumidos em quantidades impraticáveis. “Não dá para comer quilos de gengibre para tentar compensar o efeito de um cupcake”, exemplifica Cíntia Cercato, endocrinologista do Hospital das Clínicas da USP. Outros alimentos e substâncias emergiram como “soluções” para a obesidade como a cafeína e, mais recentemente, o óleo de coco. Embora este último encontre apoio entre entusiastas e até acadêmicos, não há evidência de que ele tenha efeito na perda de peso, segundo as “Diretrizes Brasileiras de
Obesidade”, publicação da Associação Brasileira de Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. Já a cafeína, presente naturalmente em uma série de grãos e bebidas, tem conhecido poder estimulante, mas, apesar disso, não há evidência científica de que consiga reduzir o peso corporal. A indústria de suplementos nutricionais à base de fitoterápicos, termogênicos e micronutrientes como cálcio e cromo também não inspiram muita confiança de especialistas ouvidos pela Folha. ”Agências de saúde sérias como a FDA [americana] já encontraram hormônio tireoidiano, diuréticos e até anfetamina em cápsulas que eram para ser à base de chá. A cada nova moda, muda o chá e as demais substâncias são as mesmas”, diz Bruno Geloneze, endocrinologista e professor da Unicamp.
ORIGEM
Bianca Naves, do grupo de comunicação do Conselho Regional de Nutricionistas SP-MS, afirma que as modas têm origem no exterior, com celebridades que testam algo pontual ou algum achado de algum profissional de saúde, que acaba indo a público sem validação ou testes mais abrangentes, muitas vezes só com estudos em animais. ”Antes de acontecerem estudos maiores, esses produtos acabam caindo na mídia, justamente por causa das celebridades. E as pessoas acreditam que, se funcionou para alguém que é referência para elas, é real.” A nutricionista especialista em fitoterapia Heloisa Piccinato diz que há compostos com poder de reduzir a ansiedade ou de melhorar a qualidade do sono –fatores auxiliares no processo do emagrecimento. ”Há muita coisa ainda para ser estudada. O problema da fitoterapia é que ela é muito barata e há pouco interesse comercial para bancar os estudos.” A homeopatia também não encontra respaldo. “Pode servir para outras coisas, mas não para tratar a obesidade”, afirma Cintia Cercato. “As pessoas esquecem que a obesidade é uma doença complexa, crônica e recidivante. Os pacientes são vítimas fáceis de qualquer um desses tratamentos milagrosos, já que essa é uma doença que não dá para esconder de ninguém.” ”As pessoas gostariam de ter uma solução milagrosa, de perder peso sem ter que mudar hábitos, comendo e bebendo o que gostam. Isso não existe. Vão atrás do que está na moda porque querem uma solução mágica, mas percebem que não adiantou e partem para a próxima onda milagreira”, diz a endocrinologista Maria Victória Descalzo.